O FETO REVOLTADO
Viviane Carvalho Lopes
– Mãe! Não vá embora, eu preciso de você... - grita Ana
– Cala a boca rapariga – disse o pai José chegando ao enterro. A famÃlia que era muito pobre morava na periferia de São Paulo, Ana era a única filha do casal que estava viva, sobreviveu, pois foi forte. Forte a todos os problemas da famÃlia, sua mãe morreu vÃtima de uma bala perdida, triste final para uma nordestina que sonhava com a cidade grande. O enterro foi simples e possÃvel só pela ajuda dos amigos que compraram o caixão.
A vida da garota iria mudar e ela já sabia, pois seu pai era um bruto. Chegou em casa angustiada, pensando que não ia saber viver sem a mãe em meio a tantas dificuldades e nessa hora o pai chegou.
– Filhinha... Olha o que o papai trouxe para você.
– O que é?
– Uma roupa, agora é você que trabalha.
O pai trouxera um vestido preto e uma lingerie, iria obrigar a filha a vender o corpo em troca do sustento da casa, realmente, Aninha se tornou uma prostituta. Passaram-se 10 anos a prostituição havia acabado com a vida daquela garotinha que agora tinha 23 anos, não aparentava ser uma jovem e sim uma senhora, era bonita, mas muito triste, se envolvia em relacionamentos pouco duradouros, pois os homens só queriam sexo grátis, e ela só queria um pouco de amor, um pouco de vida a dois, até mesmo uma famÃlia, ansiava por amigos, mas não os tinha. Tão jovem ela já tinha engravidado e abortado sete vezes em operações difÃceis feitas todas pela parteira Marta, uma mulher que morava perto de Ana.
Ela tinha engravidado de novo e desta vez iria ter a criança, não queria viver sozinha, queria experimentar a vida de mãe, iria falar ao seu namorado, que estava grávida e que os três poderiam formar uma famÃlia feliz, chegando à casa do Valter o seu namorado ela disse: - Querido tenho uma coisa muito séria para te dizer. Estou grávida.
– Mulher! Como você diz isso, tenho certeza que esse filho não é meu.
Ouvindo essas palavras Aninha lembrou do seu pai que abusava dela verbalmente e sexualmente, se sentiu triste e só. Acabou desmaiando. Quando acordou estava deitada em uma calçada, com certeza Valter tinha renunciado ela e seu filho. Ana olhou no espelho e se viu com a barriga grande já estava com 8 meses, não viu outra escolha se não abortar, chamou a Marta para vir a sua casa para os procedimentos a senhora chegou e deu um sedativo a Ana que dormiu profundamente. Acordou apavorada, não sabia onde estava. Estava em sua casa na COABE.
Depois de alguns dias Ana perguntou a Marta onde tinha colocado o feto, pois tinha uma ligação muito grande com aquela criança, e a mulher lhe disse:
– O feto sobreviveu! E aà dei a um orfanato da cidade, fique tranqüila.
No orfanato chamaram a criança de Willa, era uma menininha linda, mas tinha seqüelas do aborto mal feito, tinha problemas respiratórios e uma perna maior do que a outra. Com sete anos Willa começou a estudar. Era uma aluna brilhante, mas muito introvertida, só mantinha relacionamento com a cozinheira Luzia que a tratava como se fosse à mãe.
Em uma daquela visitas de casais em busca de um filho, a menina percebeu que ela era a única criança que nunca tinha recebido uma visita e pensou: “Por que eu serei adotada? Tenho problemas na respiração, sou negra e tenho uma perna maior do que a outra. Nunca serei adotada”. Aos 10 anos ela já estava mais extrovertida e a sua mãe de consideração Luzia, estava cada vez mais doente e a menina perguntou:
– O que você tem mãe? Está abatida .
– Nada minha linda. E os seus estudos ?
– Não gosto quando você me responde com outra pergunta
– Minha filha, estou doente e é grave, você tem que se acostumar que um dia não estarei mais aqui.
A menina gritou e disse:
– Minha mãe. Eu te amo, preciso de você, não fique triste.
Quando Willa tinha 13 anos Luzia morreu e ninguém a deixou ir ao enterro. Ninguém adotou a pobre menina e o orfanato estava sem verbas. Há meses a garota decidiu que não iria ficar mais no orfanato e decidiu fugir, começou a arrumar a sua bolsa, colocou roupas e um pouco de comida, esta noite iria se encontrar com a realidade, sua face não era triste, mas revoltada, estava angustiada e curiosa para ver como era. A menina fugiu e pegou um ônibus que parou na Praça da Sé, olhou no relógio velho e viu que eram seis horas da tarde e já estava escurecendo.
Com seu jeito engraçado de andar seguiu adiante, e perguntou a um moço onde tinha uma lanchonete,ele respondeu – Olha ali na esquina, e lá se foi a menina jantar. Entrou na lanchonete pediu pão com café com leite, ficou procurando na bolsa as economias que Luzia tinha dado, quando finalmente as achou, apareceram sete meninos em volta dela e puxaram o dinheiro, eles saÃram correndo e ela saiu atrás deles com suas pernas defeituosas, quando um dos meninos do bando olhou para trás, viu que a menina nunca iria chegar até eles, os meninos pararam e começaram a zombar da menina – (risos) Ela é cotó! – Disse Paulo um dos meninos de rua.
– Você é perna de pau - Disse LuÃs o outro menino
– Muito previsÃvel é quando alguém zomba de mim, mas eu quero o meu dinheiro de volta.
– Por que ce acha que vamo devolvê? –Disse Paulo
–Eu só quero o meu dinheiro, eu só tenho isso, sou igual a vocês.
– Ce não é nada sua nega maluca.
– Sou sim – Disse Willa
– Por acaso é homem, macho? (todos riram)
– Sua mulherzinha, você pode ser preta, mas não é um de nóis.
– Eu sou órfã, sou igual a vocês, menina de rua.
– Menina de rua? Isso aqui não é para você vai cuidar das tuas bonecas do teu fogão.
– Você quer que eu te prove que mulher merece respeito assim como o homem?
– Ah! Essa eu quero ver.
– Quero entrar para o grupo de vocês.
– Vire um homem então. –Disse LuÃs
Eles jogaram todo o dinheiro de Willa no chão e foram embora. A menina saiu chorando de onde estava e catou o dinheiro do chão e saiu andando pela noite de SP. Sentou em um banco de praça e refletiu triste, queria morrer e queria matar. Começou a ter um plano e decidiu se tornar um homem, entrou em um cabeleireiro e pediu que fizesse um corte bem masculino, e observando, viu seus cachos caÃrem no chão, não dava tristeza dava prazer, se tornar homem era belo diante de tudo que a desigualdade fazia com uma mulher. Saiu do salão, renovada, ou melhor, renovado, a partir de hoje se tornaria homem e se chamaria William, e nesta mesma noite um homem lhe ofereceu um emprego queria que ajudasse sete meninos a roubar uma loja de roupas, aceitou, eram os mesmo garotos que haviam zombado dela há três horas atrás, mas a tratavam muito diferente já que agora era um homem eles a chamavam de chapa e de amigão, depois de alguns meses roubando, dormindo no esconderijo dos meninos resolveu contar a eles que era uma menina, a mesma menina cotó, nega maluca e frágil que eles conheceram, contou, e morreu espancada pelos meninos. No dia seguinte ao assassintao a polÃcia e a impresa, fez um grande espetáculo com a morte de Willa, foram no velho orfanato, captaram as informações da menina, e a manchete dizia : FETO REVOLTADO MORRE.
Viviane Carvalho Lopes
– Mãe! Não vá embora, eu preciso de você... - grita Ana
– Cala a boca rapariga – disse o pai José chegando ao enterro. A famÃlia que era muito pobre morava na periferia de São Paulo, Ana era a única filha do casal que estava viva, sobreviveu, pois foi forte. Forte a todos os problemas da famÃlia, sua mãe morreu vÃtima de uma bala perdida, triste final para uma nordestina que sonhava com a cidade grande. O enterro foi simples e possÃvel só pela ajuda dos amigos que compraram o caixão.
A vida da garota iria mudar e ela já sabia, pois seu pai era um bruto. Chegou em casa angustiada, pensando que não ia saber viver sem a mãe em meio a tantas dificuldades e nessa hora o pai chegou.
– Filhinha... Olha o que o papai trouxe para você.
– O que é?
– Uma roupa, agora é você que trabalha.
O pai trouxera um vestido preto e uma lingerie, iria obrigar a filha a vender o corpo em troca do sustento da casa, realmente, Aninha se tornou uma prostituta. Passaram-se 10 anos a prostituição havia acabado com a vida daquela garotinha que agora tinha 23 anos, não aparentava ser uma jovem e sim uma senhora, era bonita, mas muito triste, se envolvia em relacionamentos pouco duradouros, pois os homens só queriam sexo grátis, e ela só queria um pouco de amor, um pouco de vida a dois, até mesmo uma famÃlia, ansiava por amigos, mas não os tinha. Tão jovem ela já tinha engravidado e abortado sete vezes em operações difÃceis feitas todas pela parteira Marta, uma mulher que morava perto de Ana.
Ela tinha engravidado de novo e desta vez iria ter a criança, não queria viver sozinha, queria experimentar a vida de mãe, iria falar ao seu namorado, que estava grávida e que os três poderiam formar uma famÃlia feliz, chegando à casa do Valter o seu namorado ela disse: - Querido tenho uma coisa muito séria para te dizer. Estou grávida.
– Mulher! Como você diz isso, tenho certeza que esse filho não é meu.
Ouvindo essas palavras Aninha lembrou do seu pai que abusava dela verbalmente e sexualmente, se sentiu triste e só. Acabou desmaiando. Quando acordou estava deitada em uma calçada, com certeza Valter tinha renunciado ela e seu filho. Ana olhou no espelho e se viu com a barriga grande já estava com 8 meses, não viu outra escolha se não abortar, chamou a Marta para vir a sua casa para os procedimentos a senhora chegou e deu um sedativo a Ana que dormiu profundamente. Acordou apavorada, não sabia onde estava. Estava em sua casa na COABE.
Depois de alguns dias Ana perguntou a Marta onde tinha colocado o feto, pois tinha uma ligação muito grande com aquela criança, e a mulher lhe disse:
– O feto sobreviveu! E aà dei a um orfanato da cidade, fique tranqüila.
No orfanato chamaram a criança de Willa, era uma menininha linda, mas tinha seqüelas do aborto mal feito, tinha problemas respiratórios e uma perna maior do que a outra. Com sete anos Willa começou a estudar. Era uma aluna brilhante, mas muito introvertida, só mantinha relacionamento com a cozinheira Luzia que a tratava como se fosse à mãe.
Em uma daquela visitas de casais em busca de um filho, a menina percebeu que ela era a única criança que nunca tinha recebido uma visita e pensou: “Por que eu serei adotada? Tenho problemas na respiração, sou negra e tenho uma perna maior do que a outra. Nunca serei adotada”. Aos 10 anos ela já estava mais extrovertida e a sua mãe de consideração Luzia, estava cada vez mais doente e a menina perguntou:
– O que você tem mãe? Está abatida .
– Nada minha linda. E os seus estudos ?
– Não gosto quando você me responde com outra pergunta
– Minha filha, estou doente e é grave, você tem que se acostumar que um dia não estarei mais aqui.
A menina gritou e disse:
– Minha mãe. Eu te amo, preciso de você, não fique triste.
Quando Willa tinha 13 anos Luzia morreu e ninguém a deixou ir ao enterro. Ninguém adotou a pobre menina e o orfanato estava sem verbas. Há meses a garota decidiu que não iria ficar mais no orfanato e decidiu fugir, começou a arrumar a sua bolsa, colocou roupas e um pouco de comida, esta noite iria se encontrar com a realidade, sua face não era triste, mas revoltada, estava angustiada e curiosa para ver como era. A menina fugiu e pegou um ônibus que parou na Praça da Sé, olhou no relógio velho e viu que eram seis horas da tarde e já estava escurecendo.
Com seu jeito engraçado de andar seguiu adiante, e perguntou a um moço onde tinha uma lanchonete,ele respondeu – Olha ali na esquina, e lá se foi a menina jantar. Entrou na lanchonete pediu pão com café com leite, ficou procurando na bolsa as economias que Luzia tinha dado, quando finalmente as achou, apareceram sete meninos em volta dela e puxaram o dinheiro, eles saÃram correndo e ela saiu atrás deles com suas pernas defeituosas, quando um dos meninos do bando olhou para trás, viu que a menina nunca iria chegar até eles, os meninos pararam e começaram a zombar da menina – (risos) Ela é cotó! – Disse Paulo um dos meninos de rua.
– Você é perna de pau - Disse LuÃs o outro menino
– Muito previsÃvel é quando alguém zomba de mim, mas eu quero o meu dinheiro de volta.
– Por que ce acha que vamo devolvê? –Disse Paulo
–Eu só quero o meu dinheiro, eu só tenho isso, sou igual a vocês.
– Ce não é nada sua nega maluca.
– Sou sim – Disse Willa
– Por acaso é homem, macho? (todos riram)
– Sua mulherzinha, você pode ser preta, mas não é um de nóis.
– Eu sou órfã, sou igual a vocês, menina de rua.
– Menina de rua? Isso aqui não é para você vai cuidar das tuas bonecas do teu fogão.
– Você quer que eu te prove que mulher merece respeito assim como o homem?
– Ah! Essa eu quero ver.
– Quero entrar para o grupo de vocês.
– Vire um homem então. –Disse LuÃs
Eles jogaram todo o dinheiro de Willa no chão e foram embora. A menina saiu chorando de onde estava e catou o dinheiro do chão e saiu andando pela noite de SP. Sentou em um banco de praça e refletiu triste, queria morrer e queria matar. Começou a ter um plano e decidiu se tornar um homem, entrou em um cabeleireiro e pediu que fizesse um corte bem masculino, e observando, viu seus cachos caÃrem no chão, não dava tristeza dava prazer, se tornar homem era belo diante de tudo que a desigualdade fazia com uma mulher. Saiu do salão, renovada, ou melhor, renovado, a partir de hoje se tornaria homem e se chamaria William, e nesta mesma noite um homem lhe ofereceu um emprego queria que ajudasse sete meninos a roubar uma loja de roupas, aceitou, eram os mesmo garotos que haviam zombado dela há três horas atrás, mas a tratavam muito diferente já que agora era um homem eles a chamavam de chapa e de amigão, depois de alguns meses roubando, dormindo no esconderijo dos meninos resolveu contar a eles que era uma menina, a mesma menina cotó, nega maluca e frágil que eles conheceram, contou, e morreu espancada pelos meninos. No dia seguinte ao assassintao a polÃcia e a impresa, fez um grande espetáculo com a morte de Willa, foram no velho orfanato, captaram as informações da menina, e a manchete dizia : FETO REVOLTADO MORRE.
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