TUDO AO SEU TEMPO
Viviane Carvalho Lopes[1]
Se você construir uma casa na praia logo ela irá desabar, mas se ela estiver firmada em bases fortes, pode vir ventos e tempestades, você estará seguro, assim acontece com a educação, se sua estrutura for firme pode vir os problemas da vida, vestibular e o primeiro emprego você ficará bem, pois é um privilegiado.
A minha educação escolar foi construída a beira-mar, e a minha relação com o português foi difícil andei por estreitos caminhos. Lembro-me da 1° série e da minha ‘incapacidade’ de escrever a letra q, eu não sabia escrever queijo escrevia gueijo, eu não gostava da professora, ela me olhava estranho e desprezava o meu direito de saber onde errei, aprendi sozinha e fui adiante.
Quando entrei na 2° série mudei, fui aprendendo a gostar das coisas que via e a me interessar pelo português, a professora elogiava a minha letra e dizia que era só eu me esforçar que tudo dava certo, ela me entendia de um jeito peculiar, quando fui para as férias de junho ela me deu um livro que tinha muitas histórias eu lia o dia inteiro a mesma coisa, uma história sobre uma menina chamada Luzia e fui desenvolvendo a minha linguagem a partir dessas pequenas leituras.
3° e 4° eu não tinha vínculos sociais com ninguém, ou melhor, sofria preconceitos, e eu nem ligava queria mesmo era ser feliz, mas mesmo assim isso me prejudicou, às vezes chorando dizia a minha mãe que não queria ir pra escola e ela falava que eu não podia, pois era importante, e assim o tempo foi passando, e ainda nesse período a professora pediu um trabalho sobre verbo, eu tinha que explicar e aplicar uma prova ao restante da turma, foi muito bom quando expliquei, mesmo com tanta repressão eu era boa em falar em público, mas a leitura foi se distanciando de mim.
Os anos foram bons e ao mesmo tempo tão duros, lembrar desse passado do qual eu nunca me esquecerei implica em ressaltar a minha mãe que me ajudou direta e indiretamente me incentivou, lembro da bíblia que a gente lia e da igreja, das interpretações da bíblia que fazíamos na escola dominical, isso me ajudou muito com a leitura, pois na 5° série eu tinha uma das melhores leituras da sala, via meus colegas gaguejando enquanto eu lia perfeitamente bem, às vezes eu nem entendia o que estava lendo, mas é inquestionável que eu lia bem e se passou 6° e 7° série.
Chegando a 8° série eu era uma menina despreocupada, e só vivia na Internet, isso fez com que eu me desligasse total. Amando matemática eu odiava português, era tão chato, a professora nos deixava na sala fazendo uns exercícios tão perversos, e eu passei de ano com muitas dificuldades em português. Estava chegando o processo seletivo do CEFET 2007, não passei, senti uma tristeza profunda, uma raiva de mim mesma, ódio de não ter dado o melhor de mim na escola e agora estava recebendo a recompensa, nesse tempo eu clamei por mudanças e a mudança chegou.
Em dezembro de 2006, saímos para viajar como de costume e fomos para a fazenda de meu pai, minha mãe levou muitos livros, e entre eles o livro sonhe alto de Ben Carson, não é uma auto-ajuda, mas é uma lição de ascensão uma vitória, Ben é um homem negro e sem recursos que com ajuda da mãe consegue se tornar neurocirurgião, isso tudo pelo incentivo e pela leitura ele dizia se eu mudasse meus pensamentos se abririam caminhos, mudei de vez.
Em 2007 estava no 1° ano e lia dois livros por semana, minhas notas foram melhorando dia após dia, mesmo estudando em escola pública percebia a mudança, gostava da professora de português foi à mulher mais doida que eu conheci em minha vida ela tinha cabeça aberta e discutia umas coisas hilárias, mas mesmo assim ela era gramatiqueira, ficava claro que eu ia tentar de novo a prova do CEFET 2008, fiz e hoje estou aqui ainda no 1° ano e aprendendo coisas de extrema diferença.
O CEFET tem educação pública de qualidade, tem português de qualidade, pois não estamos ligados a regras, estamos juntos aprendendo a compreender, a entender o mundo e modificá-lo. Sei que tenho muita coisa pra aprender, e muitas coisas para mudar, não vejo aqui um fim de uma história mais um começo de uma relação, o meu vínculo com a linguagem.
[1] Fiquei feliz ao fazer esse texto, pois houve um resgate em minha memória. Acredito na história em que todos temos para contar e na vida que é repleta de espetáculos.
Se você construir uma casa na praia logo ela irá desabar, mas se ela estiver firmada em bases fortes, pode vir ventos e tempestades, você estará seguro, assim acontece com a educação, se sua estrutura for firme pode vir os problemas da vida, vestibular e o primeiro emprego você ficará bem, pois é um privilegiado.
A minha educação escolar foi construída a beira-mar, e a minha relação com o português foi difícil andei por estreitos caminhos. Lembro-me da 1° série e da minha ‘incapacidade’ de escrever a letra q, eu não sabia escrever queijo escrevia gueijo, eu não gostava da professora, ela me olhava estranho e desprezava o meu direito de saber onde errei, aprendi sozinha e fui adiante.
Quando entrei na 2° série mudei, fui aprendendo a gostar das coisas que via e a me interessar pelo português, a professora elogiava a minha letra e dizia que era só eu me esforçar que tudo dava certo, ela me entendia de um jeito peculiar, quando fui para as férias de junho ela me deu um livro que tinha muitas histórias eu lia o dia inteiro a mesma coisa, uma história sobre uma menina chamada Luzia e fui desenvolvendo a minha linguagem a partir dessas pequenas leituras.
3° e 4° eu não tinha vínculos sociais com ninguém, ou melhor, sofria preconceitos, e eu nem ligava queria mesmo era ser feliz, mas mesmo assim isso me prejudicou, às vezes chorando dizia a minha mãe que não queria ir pra escola e ela falava que eu não podia, pois era importante, e assim o tempo foi passando, e ainda nesse período a professora pediu um trabalho sobre verbo, eu tinha que explicar e aplicar uma prova ao restante da turma, foi muito bom quando expliquei, mesmo com tanta repressão eu era boa em falar em público, mas a leitura foi se distanciando de mim.
Os anos foram bons e ao mesmo tempo tão duros, lembrar desse passado do qual eu nunca me esquecerei implica em ressaltar a minha mãe que me ajudou direta e indiretamente me incentivou, lembro da bíblia que a gente lia e da igreja, das interpretações da bíblia que fazíamos na escola dominical, isso me ajudou muito com a leitura, pois na 5° série eu tinha uma das melhores leituras da sala, via meus colegas gaguejando enquanto eu lia perfeitamente bem, às vezes eu nem entendia o que estava lendo, mas é inquestionável que eu lia bem e se passou 6° e 7° série.
Chegando a 8° série eu era uma menina despreocupada, e só vivia na Internet, isso fez com que eu me desligasse total. Amando matemática eu odiava português, era tão chato, a professora nos deixava na sala fazendo uns exercícios tão perversos, e eu passei de ano com muitas dificuldades em português. Estava chegando o processo seletivo do CEFET 2007, não passei, senti uma tristeza profunda, uma raiva de mim mesma, ódio de não ter dado o melhor de mim na escola e agora estava recebendo a recompensa, nesse tempo eu clamei por mudanças e a mudança chegou.
Em dezembro de 2006, saímos para viajar como de costume e fomos para a fazenda de meu pai, minha mãe levou muitos livros, e entre eles o livro sonhe alto de Ben Carson, não é uma auto-ajuda, mas é uma lição de ascensão uma vitória, Ben é um homem negro e sem recursos que com ajuda da mãe consegue se tornar neurocirurgião, isso tudo pelo incentivo e pela leitura ele dizia se eu mudasse meus pensamentos se abririam caminhos, mudei de vez.
Em 2007 estava no 1° ano e lia dois livros por semana, minhas notas foram melhorando dia após dia, mesmo estudando em escola pública percebia a mudança, gostava da professora de português foi à mulher mais doida que eu conheci em minha vida ela tinha cabeça aberta e discutia umas coisas hilárias, mas mesmo assim ela era gramatiqueira, ficava claro que eu ia tentar de novo a prova do CEFET 2008, fiz e hoje estou aqui ainda no 1° ano e aprendendo coisas de extrema diferença.
O CEFET tem educação pública de qualidade, tem português de qualidade, pois não estamos ligados a regras, estamos juntos aprendendo a compreender, a entender o mundo e modificá-lo. Sei que tenho muita coisa pra aprender, e muitas coisas para mudar, não vejo aqui um fim de uma história mais um começo de uma relação, o meu vínculo com a linguagem.
[1] Fiquei feliz ao fazer esse texto, pois houve um resgate em minha memória. Acredito na história em que todos temos para contar e na vida que é repleta de espetáculos.
0 comentários:
Postar um comentário